Encontro Marcado

Lembro que rabisquei as linhas abaixo depois de rever Encontro Marcado num canal a cabo, em um quarto de hotel. Não lembro onde estava, mas provavelmente em algum festival, e não foi neste ano, foi em 2019, pois neste ano não viajei. De todo modo, é outro dos textos que achei na gaveta e resolvi publicar.

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Estava revendo Encontro Marcado (1998), de Martin Brest, com Anthony Hopkins e Brad Pitt. É mais um filme que na época achei quadrado, um tanto cansativo pela duração (3 horas), e agora me pareceu bem dirigido e atuado, com aquela habilidade que Hollywood parece ter reservado a exceções cada vez mais raras.

Talvez tenha sido o filme que mostrou que Pitt, vivendo Joe Black, ou melhor, a morte, era um bom ator (embora depois desse ele tenha sido canastrão algumas vezes). Hopkins deixou o histrionismo que já demonstrava naqueles dias e está soberbo, acompanhando todo o elenco, com destaque para Marcia Gay Harden.

É sobretudo um filme que valoriza a inteligência do espectador. A cena mais marcante nesse sentido é a da despedida de Joe e Susan (Claire Forlani), quando esta, sem verbalizar, demonstra ter entendido o que estava acontecendo e quem era aquela figura misteriosa que ela por algum motivo começou a amar. Forlani e Pitt valorizam a opção pelo não dito, seus olhares e titubeios emocionam até pedra nessa despedida que ele sabe ser temporária (afinal, a morte chega para todos), e ela apenas intui essa possibilidade.

Depois disso tem a revelação do escroque oportunista e sua definitiva derrocada. E aí o filme ameaça se perder, pois para criar um suspense no espectador sobre a revelação ou não da verdade para o escroque, Brest sacrifica a interpretação de Hopkins, que é obrigado a sair de seu registro quase minimalista (embora com eventuais e calculadas explosões), para uma sensação óbvia demais de alívio quando ouve as palavras “auditor da receita federal” no lugar da palavra “morte”. O final em si também me soa hollyoodiano demais, assim como havia sido um tanto tola a morte do rapaz da lanchonete no início. Uma morte deslocada, que parece mais de algo como Premonição, bom filme que só iria surgir anos depois, do que desse filme elegante que Martin Brest dirigiu e, mesmo com a queda no final, ainda é o melhor de sua carreira.

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