John Wick 3: Parabellum

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No segundo exemplar desta estranha franquia, realizado em 2017, já tinha ficado claro que Nova York havia se transformado numa espécie de cidade de assassinos, e vislumbrava-se uma sátira ao cinema de ação hollywoodiano ao mesmo tempo em que o cinema de ação de Hong Kong era uma referência evidente.

Neste Capítulo 3, tudo isso se mantém, mas Stahelski está ainda melhor para filmar cenas de ação e de certa forma aprimora seu portfolio aproveitando-se de todos os ambientes possíveis, mesmo fora de Nova York, em Casablanca, por exemplo, como também em depósitos de armas, bibliotecas, sala de reflexões, complexos viários e outras sandices. A violência também me pareceu mais gráfica, o que reforça a semelhança com o cinema asiático.

John Wick não tem lar, não toma banho, não come e não dorme. Parece viver apenas como um boneco de ação, uma máquina de guerra, quase um imortal. Nesse sentido, tornou-se, como os outros assassinos do filme, um autômato, uma espécie de inteligência artificial super evoluída e com habilidades marciais. E no entanto, não é feito de cristal líquido, mas sangra, e sangra pra burro.

O mundo no filme é um lugar tão absurdo e distópico que parece uma fantasia bolsonarista/trumpista, em que todos andam carregados de armas, atiram cinco ou seis vezes para matar e agem segundo um código moral rígido, mas bem duvidoso. Faltou apenas matar em nome de Jesus, embora se possa pensar na Ordem do filme como uma religião, que as pessoas servem sem maiores questionamentos (já se matou bastante em nome do pobre Messias, que, no entanto, só queria pregar a paz).

Mas Stahelski está menos interessado em parábolas políticas (embora elas existam) do que em brincar com as possibilidades do cinema físico, com coreografias muito bem realizadas e acrobacias que desafiam o histórico do filme de ação. Há ainda alguma coisa de percussivo na massa sonora de socos, chutes e facadas. Em alguns momentos, se fecharmos os olhos, imaginamos um concerto de variadas percussões, com urros invadindo as batidas e nos lembrando que é só mais um filme violento de ação, ainda que um tanto mais talentoso que a média.

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