Olhar de Cinema 2021: A Máquina Infernal

A Máquina Infernal (2021), de Francis Vogner dos Reis

Por Carla Oliveira

Uma fábrica no limite de sua existência, situada entre cidades do ABC paulista. Um antigo símbolo de progresso que expira vapor e soa anacrônico. Um território decadente do mal, quase a ponto da implosão.

Confinados nela, em jornadas longas e mal remuneradas, estão funcionários que não se robotizam. Eles discutem a precariedade de sua situação em um escuro subsolo e, em meio às máquinas, sentem desespero, e também desejo. Uma mão mecânica, substituta da que foi perdida em uma prensa por um funcionário que não viu alternativas de trabalho fora da fábrica, acaricia o corpo da protagonista, vivida por Carolina Castanho, atriz que também atua em A Cidade dos Abismos, de Priscyla Bettim e Renato Coelho, filme no qual o fantástico urbano se manifesta de forma onírica. Em A Máquina Infernal, é o horror que prevalece. E ele é o recurso ideal para se contar esta história.

Uma morte prematura, prenúncio do flagelo no domínio da máquina, resulta em sangue e óleo escorrendo pelo chão da fábrica. Um funcionário havia escutado um barulho estranho, vindo de cima. Ao invés de sinfonia cadenciada de máquinas, neste inferno se escutam compasso de relógio, marcando horas intermináveis, e ruídos perturbadores e humanoides. As máquinas passam a determinar o comportamento e a vida dos funcionários. Vai faltar ar para respirar e, mesmo depois que tudo se dissipa, o horror é que se segue precisando de aparelhos.