Música e lágrimas (sobre Euphoria)

Texto escrito em junho de 2019 e engavetado por esquecimento.

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Creio já ter escrito, no antigo chip hazard, que música e pintura foram minhas primeiras paixões, antes do cinema.

A música veio antes. Minha mãe conta que desde bebê eu não parava de cantar. Depois vieram as paixões pela música do Roberto Carlos (fase dos anos 60), Beatles, Queen, Rolling Stones, heavy metal, progressivo, new wave, pós-punk, nessa ordem, para depois abrir para ainda outros estilos.

A pintura surgiu ainda na adolescência, porque minha mãe e minhas duas tias pintavam amadoristicamente e as três tinham a coleção de pintura da Abril Cultural que eu devorei na época.

O cinema sempre esteve à sombra dessas duas outras paixões, e quando passou na frente meio que foi um pouco influenciado por elas, de modo que uma música bem usada num filme ou um enquadramento com valor pictórico chamam minha atenção de pronto.

Tem, obviamente, o lado oposto dessa moeda. Se a música, mesmo quando excelente, é mal usada, o filme tende a cair na minha percepção, como é o caso do mau uso de “Fala”, dos Secos e Molhados, que puxa para baixo A História da Eternidade.

Qualquer dia elaboro uma lista com os que considero bons usos de grandes músicas no cinema. Por enquanto, chamou-me a atenção “Fly me to the Moon”, na versão de Bobby Womack, no segundo episódio da série Euphoria, da HBO.

Nessa série, as semelhanças com a obra de Larry Clark e seu sensacionalismo no trato com as inquietações adolescentes me afastavam, mas algumas coisas me atraíam. Não só Zendaya, que interpreta a protagonista Rue, mas sua irmã e sua mãe no filme são atrizes excelentes. As amigas adolescentes, em grande parte, fazem ótimas interpretações. Há, sobretudo, um traficante do bem chamado Fez, que cuida de Zendaya sem abrir mão de fazer algum dinheiro vendendo e comprando de gente muito perigosa.

Aí surge o clipe com a música de Womack, inserida num momento em que Rue tenta resgatar memórias de seu último ano para um exercício escolar. Uma sequência musical como essa, muito bem concatenada dentro da narrativa, levanta uma série que ia na corda bamba, entre um acerto tímido e o fiasco. Não chegou a me levar as lágrimas, como o título  do post, inspirado no título brasileiro de The Glenn Miller Story (Anthony Mann, 1954), pode sugerir. Mas reconheço sua beleza e a delicadeza na escolha da música.

A série, devo dizer, continuou na corda bamba até o fim [da primeira temporada, única que vi]. Gosto de algumas coisas e o episódio depalmiano do parque de diversões é excelente na direção, mas tem um lado sensacionalista que me incomoda bastante, sobretudo porque parece ser a intenção dos criadores mostrar o lado podre de ser adolescente.