Breaking Bad

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Finalmente resolvi tirar o atraso em algumas séries de sucesso. E desta vez foi Breaking Bad. E como todo mundo já deve ter visto, spoilers rolarão soltos por este texto.

Na primeira temporada, reparei que o texto é bom, os atores são excelentes, mas a direção é terrível. Pensei em desistir. Mas a relação de Walt com o Krazy 8 no porão da casa de Jesse me segurou. Até que entra em ação Tuco, um traficante caricatural, vilão de história mal arranjada. Voltei a ficar em dúvida se continuaria ou não.

A dúvida aumentou ainda mais no início da segunda temporada. Simplesmente porque Walt, após matar à sangue frio Krazy 8, com quem ele até tinha se envolvido em conversas pessoais, não mata Tuco, deixando-o apenas ferido. Esse episódio me pareceu muito fraco. Mas continuei vendo, e as coisas começam a engrenar um pouco antes da metade dessa temporada com a entrada de novos personagens em cena, sobretudo o advogado picareta Saul, que depois teria uma série para si (Better Call Saul), Gus, o mega traficante, e Mike, seu braço direito. Esses são de fato, junto de Hank, o cunhado policial de Walt, os melhores personagens da série. Walt, por sua vez, se aguenta em suas burrices graças a Bryan Cranston, um desses atores que caem do céu para salvar incoerências de personagens. É no sexto episódio (do assassinato com um caixa eletrônico como arma) que a temporada finalmente começa a engrenar.

A terceira temporada é a melhor até então, com Jesse deixando de ser o imbecil impulsivo para ser um cara mais interessante e complexo, com uma bondade que ele nem sempre consegue disfarçar. É também quando Skyler fica sabendo da vida dupla de seu marido Walt, culminando com um último capítulo forte graças ao assassinato de Gale Boetticher (leia-se Bériquer, como o grande cineasta Budd).

Mas na quarta temporada há a frase mais classuda de toda a série: “I am the one who knocks”, dita por Walt para tranquilizar a mulher dizendo que ninguém baterá à sua porta para matá-lo, como fizeram com Gale. E é quando se completa definitivamente a transformação de Walt em Gus, com a morte deste último e a revelação da Lily of the Valley. Walt continua sendo idiota em alguns momentos, mas em outros revela-se uma espécie de Mabuse, um manipulador de primeira. Enquanto isso, a transformação de Jesse é mais complexa. De moleque perdido a um cara de coração. Mais correto seria falar em revelação, pois sua bondade finalmente vem à tona.

Finalmente, a quinta temporada coroa todos esses movimentos internos de forma muito coerente, com a única solução possível para todos os personagens (talvez Hank poderia ter se exposto menos se não quisesse resolver o problema só com seu parceiro. Walt é um personagem trágico, destinado à morte brutal desde o primeiro episódio. Todas as suas ações vão ao encontro da morte, principalmente nesta quinta temporada. Mabuseanamente, ele manipula as situações de tal modo que salva Jessie e o dinheiro de seus filhos, tendo uma morte honrosa. Muitas séries começam bem e vão se esticando conforme o sucesso de público. Breaking Bad melhora aos poucos, num crescendo dos mais interessantes entre as séries americanas recentes. Tivesse uma melhor direção, faria história, realmente (aliás, a direção é pior nas duas primeiras temporadas).