Ceylan e o autorismo

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Engraçado como o autorismo nos prega algumas peças. Não me entusiasmei com Distante, o filme com o qual tomei conhecimento do cinema de Nuri Bilge Ceylan, mas os filmes seguintes, Climas e Três Macacos, me desagradaram de fato. Quando estreou Era Uma Vez na Anatólia, tive receio, por conta desses filmes anteriores e de sua duração (2h37m). Mas me surpreendi com um filme forte e muito bem dirigido. Aí estreia Winter Sleep, e a duração (3h18m) me deixa novamente com um pé atrás, pois não dava para saber se Era Uma Vez na Anatólia era apenas um surto ou uma indicação de maturidade. E Winter Sleep me pareceu, e ainda me parece, o melhor filme de Ceylan.

Agora me deparo com seu mais recente, A Árvore dos Frutos Selvagens, com suas três horas e oito minutos, e não me sinto tão desafiado. Pelo contrário: começo a vê-lo tendo a lembrança dos dois belos e longos filmes anteriores, esperando encontrar ao menos um eco do brilho que neles vi. O autorismo me pegou.

Mas foi pouco o que me prendeu a este recente longa. Reconheço alguns momentos de beleza, mas num todo enfadonho, ou pior, desinteressante a meus olhos. Parte do motivo é o protagonista, um jovem nada simpático, meio arrivista meio arrogante (o ator, Dogu Demirkol, não ajuda). Ele passa o filme inteiro conversando com pessoas (incluindo sua mãe) para tentar entender sua condição de escritor fracassado e sua relação com o pai (o ótimo Murat Cemcir).

Essa flutuação no nível de interesse pelo que se passa na tela difere bastante A Árvore dos Frutos Selvagens de Winter Sleep, que, por sinal, tem um elenco mais afinado. Além disso, a duração, em A Árvore, me parece uma questão de grife, mais do que uma imposição da trama e da construção dos personagens (mas sei que esta é uma impressão que não está de acordo com a da maioria dos críticos).

Deixo o link para dois textos mais cuidados, um escrito por Cecília Barroso, que traduz bastante o que senti vendo o filme (curiosamente, é a mesma nota que dou, 6/10):

https://cenasdecinema.com/a-arore-dos-frutos-selvagens/

…outro assinado por Luis Miguel Oliveira, que é um pouco mais generoso em sua nota (3/5)*:

https://www.publico.pt/2019/03/28/culturaipsilon/critica/jovem-turco-1866841

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* quando penso de 0 a 10, um filme bom leva no mínimo 7 (às vezes 6,5); quando penso em estrelas, um filme bom leva 3. A Árvore seria 2/5 (ou 2,5, quando possível). Pode não ser muito lógico, eu sei, mas não precisa ser.

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