
Benilde ou A Virgem Mãe (1975), de Manoel de Oliveira
“Repare-se, aliás, que as discussões sobre os autores eram, então, apaixonadas. O António-Pedro sempre foi um rosselliniano e um premingeriano. O Seixas batia-se pelo Fritz Lang. O João César era doido, com cineastas muito especiais na cabeça, mas também muito rosselliniano e dreyeriano. O ponto comum era, de facto, a defesa de um cinema português com existência estética e social. Ao que se juntava a questão da defesa táctica de Manoel de Oliveira. Esclareço que, desde sempre o Oliveira provocou paixões e posições divididas. Para o António-Pedro as dúvidas eram muitas, mesmo se mais tarde veio a ser capital na ajuda que prestou na produção do Amor de Perdição e da Francisca, embora oportunisticamente fosse o Paulo Branco a recolher os louros, o que muito me irrita. Também para o Seixas Santos, obviamente, o Manoel de Oliveira estava longe de ser o cineasta de seus amores. O João Cesar Monteiro, esse sim, é o primeiro dos cineastas novos a defender o Manoel de Oliveira, talvez por um espírito de contradição… Havia, claro, o Paulo Rocha, que se queria um discípulo, mesmo um herdeiro…”
Entrevista para José Manuel Costa e Manuel S. Fonseca, no catálogo Cinema Novo Português 1960-1974