Não entendo bem o fascínio que o cinema de Christian Petzold provoca em alguns cinéfilos. Com a exceção de Yella e Gespenster, com os quais tenho uma relação mais sólida, seus filmes, comigo, costumam ficar num gostar pouco entusiasmado no todo, embora sempre com alguns momentos notáveis.
Em Undine, a personagem-título é interpretada por Paula Beer, talvez a sucessora mais marcante de Nina Hoss, atriz mais constante nos filmes anteriores de Petzold. Christoph é interpretado por Franz Rogowski, espécie de Joaquin Phoenix alemão, que já havia filmado com Petzold no longa imediatamente anterior, Em Trânsito, que conta também com Paula Beer.
Este novo longa já se apresenta diferente, com um diretor mais disposto a tentar alguns truques novos ou reciclar habilmente os velhos truques, seja pela encenação (quando a câmera acompanha o olhar de Undine para seu ex, enquanto ela vai trabalhar e ele espera no café), seja pela narrativa (o aquário que se quebra e forma um novo casal). Depois vem o plano em que Christoph acompanha a chegada do trem, e o breve afogamento de Undine, filmado como se fosse um sonho. E aí, com a momentânea estabilidade do casal, o filme fica um pouco modorrento (há sempre alguma barriga nos filmes de Petzold). O inesperado voltará mais tarde.
Acontecem coisas inverossímeis como a ligação de um homem dado como morto e a força descomunal de Undine para assassinar seu ex-namorado por afogamento. Petzold se serve desses momentos para recolocar seu filme nos eixos, como se precisasse da estranheza como modo de sobrevivência de seu cinema (sempre foi um pouco assim, penso aqui ao lembrar dos filmes anteriores). Quando remete ao suicídio de Anju no O Intendente Sansho de Mizoguchi, opera-se um milagre e a partir daí tudo se torna possível, o que nos abre portas para acompanhar o filme sem a previsibilidade que o ameaçava em seu miolo.
Se o desfecho, como quase sempre acontece nos filmes de Petzold, é inferior às expectativas criadas, isto acontece um pouco por sua própria tendência ao inesperado e às soluções narrativas menos óbvias.