O mundo se torna uma outra coisa quando, desde o século 19, os humanos já precisam lidar com zumbis. Muitas mulheres, por exemplo, já eram empoderadas pela necessidade de se proteger e dominar artes marciais para continuarem com seus cérebros. O fato de Pride and Prejudice and Zombies (2016) ser um filme de época, baseado livremente no famoso livro de Jane Austen (que Joe Wright filmara com sucesso em 2005), implica um orçamento maior, que provoca colateralmente a necessidade de planos surpreendentemente bem filmados, ao menos do ponto de vista da produção, já que ninguém será tolo de torrar uma grana numa produção tosca. Por esse motivo, a primeira metade, com a construção de um universo paralelo em que zumbis atacavam a Inglaterra vitoriana, é bem interessante, com sacadas boas como a das moscas que farejam carne morta com habilidade e se tornam armas importantes contra os mortos-vivos. Infelizmente, a conta do cinema de ação chega e o filme se torna enfadonho na segunda metade, porque já tem tempo que produtores e diretores acreditam que basta ter ação para entreter e chamar público, não precisa muita inteligência, ao menos não o tempo todo.
Vi três longas anteriores de Burr Steers. O melhor, sem dúvida, é Charlie St. Cloud (2010). O pior, Igby Goes Down, espécie de sucesso indie de 2002. Interessantes, mas não de todo satisfatórios, são este filme de zumbis e o mais conhecido dele, 17 Again (2009). O que surpreende em sua carreira é a habilidade de se mover em diferentes registros. Pride and Prejudice and Zombies é bem superior a diversos filmes recentes da moda, mas é evidente que um filme que tem zumbis no nome sofrerá preconceito de antemão. Os que gostam de filmes de zumbis não embarcarão no que o filme tem de melhor: a contextualização histórica modificada para acomodar, dentro da ambiência requintada da nobreza do século 19, a ameaça dos zumbis. Os que gostam de dramas históricos serão ainda mais contrariados, pois não aceitarão a contaminação da seriedade por uma diversão inconsequente até certo ponto.