20 filmes lançados em circuito comercial no Brasil em 2019
- Amanda (Mikhael Hers, 2018)
A poesia brota das pequenas coisas, dos detalhes, como nos filmes de Rohmer, embora esteticamente diferente. Podemos nos identificar com a pequena Amanda, ou com o tio, ou com os dois e com a situação que enfrentam. E é impossível esquecer o momento “Elvis has left the building”.
– texto: https://sergioalpendre.com/2019/07/14/amanda/
- Fim da Viagem, Começo de Tudo (Kiyoshi Kurosawa, 2019)
Conhecer um outro país, uma outra cultura, para se conhecer melhor. E se conhecendo melhor, prepara-se para perseguir um sonho. Kiyoshi Kurosawa continua no topo de sua arte.
- O Paraíso Deve Ser Aqui (Elia Suleiman, 2019)
Um ator/autor em seu melhor filme. Elia Suleiman entende que o mundo está regido pelo absurdo, e por esse motivo não há lugar melhor que o seu próprio lugar. Monta-se um bunker e espera-se a procissão dos malucos passar.
- Ad Astra (James Gray, 2019)
Filme um tanto incompreendido no Brasil, de um diretor que parece inquieto, por vezes indeciso, mas com um talento raro para alternância de registros e gêneros. A perseguição até o lado escuro da lua é um achado, assim como a ideia de capitalismo chegando ao espaço (não é nova, mas foi muito bem representada). As duas outras cenas de ação são desiguais (a do macaco selvagem é interessante, e a da entrada na nave é um momento forçado do filme), mas a primeira metade é tão forte como o melhor que Gray já nos deu.
- Era uma Vez… em Hollywood (Quentin Tarantino, 2019)
Pela primeira vez Tarantino acerta em cheio em sua mania de correção histórica, talvez porque aqui ele trabalhe com a tragédia de poucas pessoas (Sharon Tate e seus amigos), não com temas ainda mais espinhosos como racismo e nazismo. Mesmo assim, não é fácil fazer essa operação sem tocar no ridículo.
– texto: https://olhardigital.com.br/cinema-e-streaming/noticia/resenha-era-uma-vez-em-hollywood/89566
- Imagem e Palavra (Jean-Luc Godard, 2018)
Godard, do alto de sua majestade em cinema, toca o “danem-se” e nos ensina a fazer cinema crítico e irreverente como poucos hoje são capazes de fazer. É, também, mais um capítulo de sua História(s) do Cinema.
- A Mula (Clint Eastwood, 2019)
Como quase todos os filmes de Clint, este também cresce com a revisão. A parte problemática é a festa na casa de Andy Garcia. Na revisão, o problema quase desaparece. Rápido, com cortes ousados e a mesma ambiguidade de sempre. Não imagino um outro cineasta branco fazendo uma cena como a do jovem descendente de imigrantes se sentindo ameaçado na batida policial (e sua dificuldade em colocar o cinto: um plano brilhante). Clint não foge das questões cruciais de nossos tempos, observando-as de perto.
- Fourteen (Dan Sallitt, 2018)
A poesia nas pequenas coisas, como em Amanda. Um filme que cresce na segunda metade, como Amanda. A reação de uma criança diante da morte, como em Amanda. As semelhanças param aí. Mas este filme de Sallitt é de primeira. Enfim, mais uma semelhança.
- Amor Até as Cinzas (Jia Zhangke, 2018)
Jia revê seus longas de ficção recentes, mas também retorna a Em Busca da Vida para entender as mudanças na China dos últimos anos. Nesse sentido, é uma atualização de Plataforma, longa de 2001 que cresce horrores em revisões.
- Bacurau (Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho, 2019)
Percebe-se no que Kleber evoluiu como cineasta e no que seu trabalho foi ajudado por uma instância crítica, a de um codiretor igualmente talentoso (e também bom em curtas). Uma parceria entrosada para um filme de longa gestação (o que talvez explique o ótimo entrosamento).
– texto: https://olhardigital.com.br/cinema-e-streaming/noticia/bacurau-e-triunfo-do-cinema-brasileiro/89969
- Se a Rua Beale Falasse (Barry Jenkins, 2018)
Belíssimo filme de Jenkins, muito superior ao badalado Moonlight.
- Diz a Ela Que Me Viu Chorar (Maíra Buhler, 2019)
Filme duro, formalmente inteligente, com um olhar atento para nossa desgraça atual.
– texto: https://sergioalpendre.com/2019/06/08/olhar-de-cinema-dias-1-e-2/
- Ama-San (Claudia Varejão, 2018)
Três mergulhadoras em um filme de rara e justa beleza plástica.
- 3 Faces (Jafar Panahi, 2018)
Qual é a estratégia necessária para se fazer notar neste mundo cheio de subcelebridades? Paixão, intolerância e desespero na fronteira da Turquia com o Irã.
- A Noite Amarela (Ramon Porto Mota, 2019)
O horror que partilha o enquadramento.
– texto: https://sergioalpendre.com/2019/06/09/olhar-dia-3-a-noite-amarela/
- O Clube dos Canibais (Guto Parente, 2019)
O horror cartunesco da elite brasileira.
- Assunto de Família (Hirokazu Koreeda, 2018)
Ligeiramente superior (e menos badalado) que Parasita.
- Um Amor Impossível (Catherine Corsini, 2018)
Virginie Efira é um assombro de atriz e de caso de amor com a câmera. Corsini é uma diretora de rara sensibilidade.
- Parasita (Bong Joon Ho, 2019)
Um tanto superestimado (quanto disso não é por causa da Palma e dos Cahiers du Cinéma?), e um degrau abaixo de O Hospedeiro, mas ainda assim é forte na maior parte do tempo.
- Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar (Marcelo Gomes, 2019)
Gomes se reencontra muito bem no documentário.
– texto: https://sergioalpendre.com/2019/07/10/estou-me-guardando/
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+ Um filme aula: Varda por Agnès (2018), de Agnès Varda
+ Um filme/show farsesco: Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story by Martin Scorsese (estreia da Netflix)
+ Um filme não lançado: A Portuguesa (2019), de Rita Azevedo Gomes
+ Um lamento: não ter visto Abaixo da Gravidade (Edgard Navarro).
+ 7 filmes que quase entraram nos 20 (e num ano mais fraco teriam entrado):
Vice, Temporada, Inferninho, Toy Story 4, Nós, O Irlandês, Dor e Glória.