(na ordem de preferência da última revisão)
1. Touro Indomável (1980)
Um boxeador especialista na arte da auto-sabotagem. Após Caminhos Perigosos, Taxi Driver e New York New York, Robert De Niro dá continuidade à galeria de homens repulsivos de Scorsese. A diferença é que Jake La Motta existiu de verdade.
2. Taxi Driver (1976)
Um exemplo daquilo que Robin Wood chamou de “texto incoerente”, e que fazia a riqueza dos melhores filmes da chamada Nova Hollywood. O que pretende Travis Bickle? Para onde irá a energia que ele está pronto para espalhar?
3. Cassino (1995)
A história de uma relação (entre De Niro e Sharon Stone) condenada ao fracasso. A destruição dos moleques de rua da Nova Hollywood (datada, no filme, em 1983, quando uma explosão põe fim a um período), pelos erros cometidos quando tinham algum poder.
4. A Época da Inocência (1993)
Scorsese já havia retratado mulheres fortes anteriormente, mas nunca tão fortes como aqui. É maldade chamar de sub-Visconti, como tantos críticos fizeram na época. Scorsese encontra seu próprio caminho na cartografia de um passado novaiorquino e seus costumes opressores.
5. O Rei da Comédia (1983)
A psicopatia das subcelebridades. Como o Pupkin de Robert De Niro, os personagens clássicos de Jerry Lewis também tinham nomes que confundiam as pessoas. E Frederico Lourenço estava certo: o filme é tanto de Scorsese quanto de Lewis, de um ponto de vista autoral.
6. A Cor do Dinheiro (1986)
Em Vou Para Casa (2001), de Manoel de Oliveira, o ator veterano interpretado por Michel Piccoli não aceita ter sua arte comprometida por dinheiro. O Eddie Felson de A Cor do Dinheiro ensina Vincent Lauria a comprometer sua arte num jogo de trapaças. Mas ele descobrirá o limite, neste belíssimo conto moral.
7. A Última Tentação de Cristo (1988)
Um projeto tão antigo de Scorsese (Barbara Hershey o presenteou com o livro de Kazantzakis em 1972), calhou de ser lançado no mesmo ano de Bird, de Clint Eastwood. Ambos são monumentais e cheios de riscos. No de Scorsese, vemos um Cristo hesitante e incoerente, um Judas fiel e compreensivo, um Pilatos “thin white duke” e um diabo criança loira.
8. Cabo do Medo (1991)
Brilhante exercício de gênero em que não vemos cinzas, mas tudo é cinza. O retrato da América white trash quando atormentada por uma de suas criações monstruosas.
9. New York New York (1977)
Não só o filme minnelliano de Scorsese (com homenagem escancarada a Sinfonia de Paris), como o mais maneirista de seus filmes. Um longa que acena para os anos 1980 ainda mais que para os anos 1950.
10. Os Bons Companheiros (1990)
Os freeze frames, em sua maior parte, incomodam, mas a maturidade dos gangsters de Scorsese refletem sua própria maturidade como diretor.
11. Depois de Horas (1985)
Não leia Trópico de Câncer em um lugar público. Essa foi a primeira de muitas decisões erradas do personagem de Griffin Dunne, que atravessa uma espécie de buraco negro do sonho yuppie e vai parar na terra sem lei dos artistas que ainda não chegaram lá.
12. Gangues de Nova York (2002)
Sujeira, medo e violência como fundações de Nova York. A batalha inicial, brilhantemente montada ao som do techno, apresenta um dos maiores personagens de Scorsese: Bill the Butcher, engrandecido pela interpretação de Daniel Day Lewis. Em certa medida, Gangues é Os Bons Companheiros do século XIX (e também do século XXI).
13. Os Infiltrados (2006)
A segunda revisão foi mais favorável a este filme em que ninguém é o que diz ser. Num contexto em que todos os homens são informantes ou recebem informações de agentes duplos, e em que até os agentes duplos têm seus duplos, a questão é principalmente de identidade. Homens sem nomes são ratos.
14. Alice Não Mora Mais Aqui (1974)
Coppola sugeriu a Ellen Burstyn o nome de Scorsese para um filme em que ela seria a protagonista. Foi a oportunidade para Scorsese expurgar o fantasma cassaveteano com Burstyn como a sua Gena Rowlands e a presença afetiva de Lelia Goldoni (atriz de Shadows) como uma amiga de Alice.
15. Caminhos Perigosos (1973)
“Be my Baby”, das Ronettes, logo no início: o wall of sound de Phil Spector como trilha perfeita para o cinema barulhento e distorcido de Scorsese.
16. Kundun (1997)
A montagem de Thelma Schoonmaker harmoniza brilhantemente a aceleração anfetamínica de Scorsese com a calmaria dos monges tibetanos. Filme bem melhor do que julguei na época de seu lançamento nos cinemas.
17. Silêncio (2016)
Andrew Garfield está surpreendente como o padre português que precisa esconder sua fé, e os diálogos entre ele e o inquisidor ou entre ele e o padre Ferreira (Liam Neeson) são muito bem levados.
18. Ilha do Medo (2010)
Kafka encontra Fuller nesta bela adaptação de Lehane. Scorsese com segurança após o Oscar finalmente conquistado com Os Infiltrados.
19. Boxcar Bertha (1972)
Imaturo para algumas coisas (o desenvolvimento narrativo, a encenação em diversos momentos), maduro para outras (o retrato do medo do comunismo e da Grande Depressão, o racismo do sul dos EUA, as cenas finais de violência), assim evolui o jovem Scorsese antes do primeiro salto com Caminhos Perigosos.
20. Quem Bate à Minha Porta (1969)
O jovem Scorsese e a estupidez dos dogmas. Harvey Keitel como o alter-ego do aprendiz de cineasta. Filme cheio de ideias, ainda sem uma clara assinatura, mas já impondo suas marcas.
21. O Aviador (2004)
O mais problemático do período 2002-2010 de Scorsese. Os sotaques de DiCaprio e Blanchett jogam o filme para baixo. Mas há momentos de brilho, principalmente na primeira hora.
22. O Lobo de Wall Street (2013)
Crítica feroz ao mundo dos corretores econômicos, com algumas firulas que anteriormente Scorsese controlava melhor. Parece até que a idiotice geral dos personagens masculinos contaminou um pouco a forma do filme. De todo modo, já não o considero mais o pior Scorsese, como até junho de 2021.
23. O Irlandês (2019)
Scorsese aceitando se rebaixar a uma média de seus principais procedimentos de estilo, e mantendo a dignidade por um triz.
24. A Invenção de Hugo Cabret (2011)
Scorsese rende-se ao 3D e às fórmulas do entretenimento para toda a família, e sobrevive com algumas sequelas.