
Desperdiçamos os blues do Roberto Pires? O que podemos dizer de um cineasta que realiza um filme como Abrigo Nuclear, anos após de seus longas mais conhecidos?
Trata-se de um longa de ficção científica distópica realizado em 1981. A terra está inabitada, destruída pela poluição. Os habitantes vivem no subterrâneo, saindo apenas com roupas especiais para pequenos programas de verificação.
Já é bizarro um tema como esse, com o tratamento que vemos, feito num país “incapaz de copiar”, parafraseando Paulo Emílio Salles Gomes.
Mas Pires é astuto, sabe da bizarrice que tem em mãos e se cerca de elementos que a acentuam: trama com desenvolvimento similar ao das séries de Irwin Allen, dublagem de desenho animado, antinaturalismo robótico, barulhos eletrônicos típicos da era do synth-pop, ideia de futuro que já parecia cafona nos anos 60. O efeito é hilário, funciona muito bem na chave em que o filme trabalha. Mas não nos impede de constatar o brilhante trabalho de câmera desse diretor experiente (que assina também a direção de fotografia), na ponta do modernismo cinematográfico brasileiro de fins dos anos 1950, começo dos 60.