Na última terça-feira a sala 4 do Monumental recebeu uma cópia restaurada (infelizmente em DCP) de A Bela da Tarde, um dos filmes mais famosos de Luís Buñuel. O filme continua uma maravilha de liberdade e lucidez, como são todos os filmes finais desse cineasta essencial, e a cópia estava mesmo boa. Mas o que me chamou a atenção aconteceu no debate após o filme, com o mestre Jean Douchet. Um espectador perguntou como a sociedade recebeu esse filme naquela época. Senti na pergunta algo assim (e posso estar enganado): “como a sociedade em 1967, super atrasada, recebeu um filme que hoje, em nossa sociedade mais avançada, ainda causa espanto?”. Douchet falou da premiação em Veneza (Leão de ouro) e das rejeições ou aprovações igualmente entusiasmadas que costumam acompanhar os filmes de Buñuel, na altura um cineasta mais do que consagrado. Mas me causa espanto (ou causa espécie, para voltar a uma expressão bem usada naquela época), que um espectador realmente ache que em 1967 a sociedade receberia um filme desses com maior escândalo do que hoje, quando o público, seja português, brasileiro ou francês, é incapaz de separar personagens de criadores e confudem representações seja lá do que for com ideologias diversas (um filme que faz uma representação do machismo passa a ser machista, e por aí vai). Penso, aliás, que um filme desses, hoje, jamais seria feito, e que um gênio como Buñuel teria imensas dificuldades em conseguir fazer filmes, e se os fizesse, teria de fazê-los com inúmeras concessões.
—————————————————–
O ponto mais fraco do Leffest é a falta de informação do formato em que os filmes serão exibidos. DCP, arquivo mkv (como foi exibido Nostra Signora dei Turchi, de Carmelo Bene), blu-ray (como parece ter sido God’s Little Acre), beta (451 Forte?), algum outro formato digital ou 35mm. É algo que o Leffest tem a aprender com a Mostra SP, que de tanto os chatos (como eu) reclamarem, passou a colocar informação mais detalhada sobre os formatos de exibição.