Girlfriends

girlfriends

De onde veio Claudia Weill, e para onde foi? Sabemos a resposta. É comum, e até certo ponto preguiçoso, falarmos do machismo do cinema clássico americano, mas nele as mulheres eram mais fortes e tinham mais poder do que no período da chamada Nova Hollywood, quando marmanjos fecharam as portas para elas, praticamente, dificultando bastante a carreira de talentos como Weill e Elaine May, por exemplo. A primeira foi mais prejudicada. Ela assina este Girlfriends (1978), que no Brasil se chamou Duas Mulheres em Nova York. É um filme adorável em todos os aspectos, mas principalmente pelo brilho de sua atriz principal.

E por falar nela, de onde veio Melanie Mayron, e para onde foi? A resposta é mais fácil. Essa atriz que foge dos burros padrões de beleza mas exala intenso carisma veio de alguns papeis pouco marcantes em filmes de segundo escalão e depois tornou-se atriz relativamente prolífica e também diretora, a partir dos anos 1990 e especialmente para a TV. Esse é um dos maiores trunfos da Nova Hollywood (do cinema moderno em geral): valorizar atores e atrizes que são gente como a gente, rostos comuns, sem glamour. No papel de Susan, uma jovem judia que vive de pequenos trabalhos, fotografando casamentos e bar mitzvahs, além de estar perdida nas questões do coração, Mayron encanta qualquer espectador com sensibilidade maior que a de um sapo. Ela é realmente demais. E não digo isso num sentido sexual, mas num sentido em que é uma pessoa que provoca em nós uma vontade de abraçá-la, de ajudá-la em seus problemas, de ouví-la, sobretudo.

Susan tem uma força específica e uma fragilidade específica. Essas características formam uma personalidade que requer um tipo de amor que poucas pessoas podem dar, raramente homens, e raramente na hedonista década de 70. Mas ela se recusa a tentar um relacionamento com outra mulher, como também não consegue com outro homem (a não ser que este seja casado, e por isso um pouco inatingível, caso do personagem de Eli Wallach). Em seu coração, só há espaço para Annie, e isso nem ela mesma parece entender, apesar de sentir avassaladoramente.

Esteticamente, Girlfriends me lembrou o igualmente sublime Return of Secaucus Seven, de John Sayles. O tom é o mesmo, ficção contaminada pelo documentário, fazendo com que os personagens todos atuem como se não fossem personagens. O velho procedimento da câmera que parece escondida, mesmo quando está a poucos centímetros do rosto dessas pessoas. Uma pena que Claudia Weill tenha feito só mais um longa depois desse.

Os espectadores portugueses, aliás, poderão ver o filme na Cinemateca Portuguesa em fevereiro (soube disso poucos dias depois de ter visto o filme em casa).

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