SP 30 anos Poa

Corte 1.

Nasceu o Espaço Banco Nacional de Cinema, na Rua Augusta, São Paulo, entre as ruas Luís Coelho e Antonio Carlos, no começo de outubro de 1993. Para comemorar, promoveram uma mostra com os melhores momentos da V Mostra Banco Nacional de Cinema, acontecida no Rio de Janeiro em setembro daquele ano. Filmes como Aconteceu na Primavera, de Paolo e Vittorio Taviani; A Grande Melancia, de Francesca Archibugi; Wittgenstein, de Derek Jarman; O Banquete de Casamento, de Ang Lee; Braindead, de Peter Jackson; Caça às Borboletas, de Otar Iosseliani, e outros menos cotados. Vi todos. Na época eu costumava tentar zerar o circuito, quase sempre sem sucesso. Mas mostras assim eu não perdia. Esse espaço viraria, no futuro, o Espaço Unibanco de Cinema, e depois, o Espaço Itaú de Cinema, que existe até hoje no mesmo lugar.

Meses depois, creio, mas não me lembro ao certo, ali mesmo alguns clássicos foram exibidos: Touro Indomável, Um Corpo que Cai, se não me engano O Inquilino. Na sessão do filme de Scorsese, aconteceu aquilo que já contei em outros textos, a mãe explicando para o filho pequeno o porquê do preto e branco, da câmera lenta, da linguagem poética. Num tom baixinho que nunca me incomodou. Uma verdadeira pedagogia cinematográfica. Imagino que aquele garotinho tenha se transformado em um cinéfilo.

Esse foi um dos espaços que mais marcaram minha cinefilia nos anos 1990, as descobertas de juventude.

Corte 2.

Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, exibe filmes de Godard, King Vidor, Karel Zeman, Marguerite Duras, Seijun Suzuki, Sarah Maldoror, entre muitas outras belezas, com a sala quase sempre cheia. Recentemente, um marco do cinema brasileiro, Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odilon Lopes, o primeiro filme dirigido por um negro no Rio Grande do Sul, foi exibido com a sala abarrotada. Tentamos ir, mas fomos surpreendidos por alagamentos de ruas no caminho. Desistimos. Não sei se veria bem o filme. Salas lotadas me dão calor, e sentir calor me tira a concentração. Mas isso não me impede de ficar feliz com a audiência e a procura por filmes menos óbvios – em que outro lugar as misturas fantásticas de animação e live action de Karel Zeman são exibidas? Ver uma sala lotada para ver o filme do Odilon Lopes, um marco desses, do qual muitos cinéfilos de hoje se afastam por ser antigo, dá uma renovada nas esperanças sugadas pelas redes sociais todos os dias. A programação da Capitólio, aliás, é sem dúvida uma das melhores e mais criativas do país.