(Em primeiro lugar, peço desculpas pelo sumiço. Viajei para Portugal, onde estou no momento, e antes da viagem o ritmo de trabalho no Brasil foi intenso, o que me impediu de pensar neste blog, que voltará agora a sua programação normal).
Reinicio com um duplo lamento. No dia 3 de maio morreram dois amigos. Dois apaixonados por cinema. Duas pessoas que eu via pouco, apesar de uma delas ter sido muito importante em minha formação. De cá, recebi a dupla notícia com tristeza e um pouco de choque. Não soube o que dizer, e talvez não o saiba jamais.
Christian Petermann era um crítico de outra escola. Não era um admirador de seus textos, mas o conheci o suficiente para saber de sua paixão por cinema e de sua inteligência. Perdi também um aliado na luta incessante pelo ar condicionado no máximo, pois Christian era, como eu, muito calorento. Nunca conversamos muito, mas era sempre agradável reencontrá-lo em festivais ou cabines de imprensa.
Francisco Conte era professor e curta-metragista (fez dois curtas em Super 8 que me agradaram bastante quando os vi, no começo dos anos 90, época em que o conheci). Desde então pedia para ele cópias desses filmes e até hoje não as tenho. Mas tenho um roteiro que ele fez e nunca filmou, do qual gostava bastante (não entendi porque ele o abandonou). Lia esse roteiro e me vinham imagens de Fassbinder. Mas essa é a menor das tristezas. Perder Conte foi como perder um mestre, mesmo que eu o visse muito menos do que gostaria (visitei-o no hospital, pouco antes de vir para Portugal; nunca imaginei que seria uma despedida). Era uma pessoa inteligente e espirituosa, cheia de frases brilhantes. Quando perguntavam sua idade, dizia que era “qualquer coisa entre o desespero e a morte”. Quando o conheci, costumava se anunciar de uma maneira bem curiosa: “eu sou aquele professor de etiqueta da Belle Époque que todo mundo achava que era francês, mas não passava de um argentino”. Não gostava muito da Nouvelle Vague porque essa geração de jovens inconsequentes troçava de um cinema que ele amava – melodramas alemães e franceses dos anos 50, sobretudo, mas muitas outras coisas. Foi ele que me deu o toque da influência da Nouvelle Vague em A Noviça Rebelde, e obviamente ele tinha razão. Aprendi muito com ele, sobretudo porque seu gosto não era nada trivial. Frequentemente discordava de meus gostos, mas quando concordava, era 100%.. Gostava de umas coisas que parece que só ele (Sissi: A Imperatriz e suas duas continuações) ou só eu e ele (Evita, do Alan Parker) gostávamos. Era um dos maiores apaixonados por cinema que eu conheci. Que encontre seus maiores ídolos no além, e que esse além tenha uma tela bem grande exibindo Marianne de ma Jeunesse em looping.