Ver Cinema Novo, o mais recente longa de Eryk Rocha, na abertura do 49º Festival de Brasília, pode ser uma experiência bem melancólica. Não só pelo uso das imagens de grandes filmes do cinema novo, mas também pela retomada de contato com o que os principais diretores da época falavam. Eles iam muito além do “fora, Temer” que parece dominar as mentes pensantes atuais. Tinham uma visão muito crítica do Brasil e do mundo, e tinham também autocrítica, como fica claro numa fala de Joaquim Pedro sobre O Padre e a Moça. Sabiam conviver com o diferente. Walter Hugo Khouri, chamado de alienado na época, estava com eles num encontro, e não parecia deslocado (o que não impede que a maior parte deles tivesse senões bem destacados a respeito de seus filmes). Tinham também uma ideia muito clara de como se comunicar com o espectador.
O filme de Eryk Rocha é fácil. Um amontoado de cenas de filmes melhores sem muita estrutura. As cenas se juntam meio a esmo, a não ser em alguns poucos momentos (as correrias das pessoas, as influências). Fazer um filme de colagem de grandes filmes é fácil. Difícil é dar organicidade à coisa, dar um aspecto crítico. Nesse sentido, Eugenio Puppo se saiu melhor com seu filme sobre Ozualdo Candeias. De certo modo é fácil também, mas ao menos é mais didático em sua ode a um mestre. O de Rocha não é desprezível, longe disso. Mas senti falta de maiores atritos, de uma espinha que desse conta das contradições da época. Pelo que lemos, eram muitas.
Na abertura do Festival, um ponto altamente positivo deve ser destacado. Não houve discursos intermináveis, nem babação de ovo para políticos. Foram direto para a apresentação dos filmes, que é o que mais importa, sempre.
O balanço completo aparecerá depois. Por enquanto, comentários rápidos surgirão por aqui.