Eterno retorno

silencio

Muito trabalho é bom, não me queixo. Mas este blog sofre um pouco com isso. Os cursos se aproximam, os prazos de textos idem, e o blog permanece sendo menos atualizado do que eu gostaria. No futuro, voltarei aos posts à moda Chip Hazard, ou seja, tops e brincadeiras como a do gosto/não gosto. É uma maneira de deixar a porta sempre aberta. Por enquanto, no velho estilo de atualizações, mantenho o leitor informado de meus últimos passos nesse terreno cada vez mais árido da cinefilia.

O Silêncio do Céu é uma surpresa. Marco Dutra deu um passo essencial para o cinema de gênero no Brasil: lidar com as coisas sem firulas, diretamente, incisivamente. A atmosfera é preparada para que algo aconteça, e algo acontecerá. Algo decisivo, para todos os envolvidos no estupro de uma mulher. O marido, que viu parte do estupro, mas não foi rápido e corajoso para agir enquanto era tempo. Os estupradores, que despertaram a fúria do marido e passam a ser perseguidos por ele. A esposa, que não sabe que o marido sabe do estupro e prefere manter-se em silêncio, como ele. Esse silêncio ameaça romper a relação e é o ponto nodal de um filme cheio de complexidades. Se mal filmado, tudo estaria perdido. Felizmente, Dutra revela um claro progresso na direção. Fez um filme maduro, cheio de não ditos e hesitações, além de uma bela homenagem a De Palma no clímax.

– Um dos maiores benefícios da internet é possibilitar que vejamos filmes em casa, em boa qualidade, antes até do que em suas estreias comerciais ou festivaleiras. A diferença da tela grande, convenhamos, é cada vez menor, uma vez que o DCP tende a igualar tudo e um mkv numa tela de computador ou TV bem calibrada produz uma imagem fantástica. Claro que alguns filmes precisam da dimensão da tela, mas a qualidade das cópias que têm saído compensam bastante essa defasagem, quase a anulam. Ou seja, o cinéfilo de uma pequena cidade no interior de Tocantins pode ter a mesma experiência que o cinéfilo de São Paulo ou Rio de Janeiro, embora este possa sempre se gabar, um tanto tolamente na maioria das vezes, de ter visto o filme numa tela grande. Sempre achei que ver filme do lado de pessoas desconhecidas, que não prezam pelo mesmo amor que eu por cinema e por isso não têm o menor respeito pela ideia de ver um filme em silêncio, atrapalha muito mais a experiência do que uma tela pequena, residencial. Agora, com a maturidade forçada pelas quatro décadas e meia de vida me trazendo também mais irritações com pessoas mal-educadas, digo sem pestanejar que prefiro, normalmente, ver uma boa cópia na minha casa do que uma boa projeção de um DCP. Como as projeções de DCP que tenho visto, na maior parte, tendem a ser lavadas ou muito saturadas, a disputa fica um tanto injusta para o lado de minha casa (já fiz essa experiência diversas vezes com filmes recentes, e quase sempre a cópia doméstica é melhor que a projetada).

– Disso vem um outro pensamento. Os cinéfilos de São Paulo ou Rio de Janeiro que mantêm a curiosidade de ver as estreias cinematográficas da semana ou ver o maior número possível de filmes nos festivais de cinema só conseguem uma coisa com isso: poluir cada vez mais o olhar, deixando-o despreparado e afeito a aceitar qualquer coisa que lhe chega. O cinéfilo de uma cidade que não tem cinema, e por isso não está sujeito às más escolhas de nossas distribuidoras, pode se concentrar, se tiver discernimento para isso, nos filmes que realmente importam.

O Lar das Crianças Peculiares segue a toada de Tim Burton há pelo menos uns 10 anos: fazer filmes bons e esquecíveis. A projeção em DCP estava esquisita, com uma moldura irritante nas laterais. Vi numa sessão vespertina, com umas dez pessoas na sala. Três delas, super barulhentas, conversando o filme inteiro como se estivessem nas casas delas (não eram jovens), sentaram na mesma fileira onde eu estava. Teria visto melhor se o filme estivesse disponível já para ver em casa.

– Encerrando com uma música de um dos meus discos favoritos. Prog italiano na cabeça.

Uma resposta

  1. Zarathustra é uma obra-prima. Viva o prog italiano!

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