Perdi a conta de quantas voltas foram. Pareço uma banda de classic rock, indo e vindo, ao sabor do ócio ou da vontade de dizer. Peço desculpas. É o que me cabe. Junto com a promessa de não sumir mais. O leitor acreditaria? Eu mesmo não acredito. Mas farei o possível para manter essa última promessa.
Volto com quatro blockbusters vistos em seguida (um recorde, até onde lembro, dentro de minhas visões de filmes). Depois deles vi um filme português, São Jorge, mas sobre ele falo depois. Por enquanto, o imperialismo hollywoodiano e suas bolas na trave.
Meu último filme visto em cinema comercial no Brasil foi o tal do Baby Driver. Pois é o pior dos quatro blockbusters. Edgar Wright fez alguns filmes medianos, mas pelo menos era possível vê-los sem sentir raiva. Com Baby Driver, não deu. Um personagem boçal, uma ideia tola, uma vulgarização da música, assim como escutá-la no meio das ruas, com o som urbano ao redor (para mim, sempre uma ofensa à música, mas sou meio missionário nesse quesito, e imagino que muitos se sentirão ofendidos; não precisam, é somente meu modo de ver as coisas). Na relação cinema e música, aliás, Guardiões da Galáxia 2, sem ser um bom filme, vai muito melhor. Só a cena inicial com o bebê Groot dançando ao som de E.L.O. vale por todo Baby Driver (e “Mr. Blue Sky”, quem diria, já ficou manjada no cinema). Tem também o momento “My Sweet Lord”, de rara inteligência. Baby Driver não tem nada assim, de encantamento musical. E é o pior também no quesito diversão.
Aqui em Lisboa, fui ao cinema para completar o quadro de cotações da Folha, e por curiosidade. No primeiro caso estão dois filmes, sobre os quais falarei a seguir. No segundo, o último filme que será comentado.
Dunkirk foi chamado de confuso por muitos críticos brasileiros. Não achei confuso. Talvez seja mesmo o filme de Christopher Nolan que mais se afaste dessa definição. Não que seja bom. Não é. Mas tampouco é um desastre. A estrutura é ousada, pretenciosa, lembra, de longe, um Intolerância (oh, Deus, tenha pena dos fariseus), com suas ações paralelas. Claro que Nolan não é capaz de levá-la a cabo totalmente, mas por algum mistério até que consegue coisas interessantes com ela, principalmente quando começa a brincar com os tempos. A se lamentar um final triunfalista e algumas coisas bem mal pensadas. A cena do barco encalhado, por exemplo, é uma tremenda bobagem, com aquela discussão sobre mandar um embora – entre uns vinte soldados – para aliviar o peso. Coisas assim afundam qualquer filme. Ele deve ter pensado em homenagear Lifeboat, de Hitchcock. É mesmo um herege.
Planeta dos Macacos: A Guerra vai na contramão do cinema de ação atual porque não tem muita ação. Não chega a ser tão subversivo nesse sentido quanto Os 47 Ronin de Mizoguchi, mas representa um alento semelhante, embora não tão bem sucedido, quanto o primeiro filme do Capitão América. Aliás, tem mais silêncios do que todos os blockbusters recentes que vi, o que é bom, porque quando entra a música o filme cai bastante. Que música sentimental e chata que fizeram. É a pior coisa deste terceiro episódio da franquia requentada. Matt Reeves concentra-se nas ideias de êxodo e na missão assumida por Cesar, de botar fim na sangria pela violência. Chamaram de belicista. Talvez seja mesmo. Mas chamam filmes disso e daquilo com muita facilidade, quase sempre por se ater somente ao conteúdo, raramente à forma.
Finalmente, Homem-Aranha: De Volta ao Lar mostra uma terceira roupagem cinematográfica do super-herói, que desta vez é financiado pelo Homem de Ferro e ganha uma roupa toda tecnológica. São dois filmes em um: a comédia adolescente, colegial, tem seus momentos, apesar da tonelada de clichês. A parte super-herói é desajeitada e aborrecida, como Kick-Ass ou Deadpool. Jon Watts parece mais interessado no primeiro filme, nos corredores escolares e nos périplos adolescentes, do que nas cenas espetaculares. Mas é condição, hoje: tudo tem de ter muita ação, tudo tem de ser uma montanha-russa. Nesse sentido, Planeta dos Macacos: A Guerra, é mais interessante, justamente por tentar uma outra via, mesmo que timidamente.