São Jorge

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Leio que São Jorge, de Marco Martins, foi o filme português escolhido para tentar uma indicação na lista de filmes estrangeiros do Oscar. Escolha coerente, já que a lista de escolhidos para essa categoria tem sido deprimente há muitos anos, com um ou outro acerto em meio a dezenas de bombas. (um amigo costumava acompanhar esses indicados, e ultimamente confessou que era mesmo uma roubada)

Vi São Jorge logo que cheguei em Lisboa, no Nimas, numa retrospectiva do circuito comercial português no ano até então (uma dessas programações Mandrake de verão, que servem para novos habitantes, como eu, tirar parte do atraso). O outro filme que vi de Marco Martins, até onde lembro, não é grande coisa, mas também não é de se jogar fora. Mas o que Alice tem de instigante, São Jorge tem de óbvio. A começar pela câmera, decalcada de O Filho de Saul, que por sua vez é decalcada dos Dardenne, que por sua vez…

Depois tem a escuridão. Alguém aqui me falou que os filmes lisbonenses atuais tendem a ser escuros, que está se pintando uma Lisboa sombria, sem muita esperança. O simbolismo pode funcionar, uma vez que a gentrificação está em pleno vapor e os miseráveis continuam a ser empurrados, até sei lá onde e até sei lá quando. Mas parece já desgastado. Essa câmera trôpega, movendo-se na escuridão e enquadrando de perto a nuca do protagonista (o cúmulo do contemporâneo, a estética da nuca), talvez não impressione mais.

Vale, obviamente, pela interpretação de Nuno Lopes, um dos maiores atores portugueses da atualidade, embora sua interpretação seja parcialmente sabotada pela câmera, e vale para um brasileiro como eu ver que a vida em Lisboa (e em Portugal) não é nada fácil e que as mesmas injustiças existem aqui aos montes  (o dinheiro, afinal, manda em tudo). Curiosamente, a amada de Nuno no filme é uma brasileira, que pensa seriamente em se mandar. Talvez tenha desistido após ver que o Brasil chegou bem antes ao inferno.

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