A Chegada é Amy Adams

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Se dependesse exclusivamente de Denis Villeneuve, A Chegada seria uma bobagem na linha de Interestelar. Villeneuve parece que só tem capacidade para fazer elipses, e ainda assim elipses óbvias. Quando não está apto a fazer seus malabarismos vazios, depende demais de bons roteiros e atores, como em Os Suspeitos, seu melhor filme.

Mas A Chegada tem Amy Adams, uma das raras atrizes capazes de impor seu ritmo à direção e com isso levar um filme inteiro nas costas. É sua respiração que acelera ou cadencia o filme. É por causa dela que nos emocionamos, pois quando a vemos em cena nunca vemos uma atriz desempenhando um papel, mas uma mãe, uma tradutora, uma cientista, em suma, uma mulher forte e dedicada no trabalho, com sensibilidade e inteligência para driblar as burrices e patadas dos brutamontes do exército ou dos pé-na-porta da CIA.

Não haveria homem para lhe fazer par no filme, e não há de fato. Jeremy Renner não é um mau ator, mas perto dela fica parecendo uma biribinha. Seria preciso um ator de maior presença, não necessariamente beleza: um Hugh Jackman, um Benício Del Toro (se não estivesse tão associado a bombas fílmicas) ou algo assim. Melhor ainda um Clint Eastwood, se pudesse ser transportado dos anos 80. Ou seja, para contracenar com uma atriz como Amy Adams, uma vez que o roteiro impõe essa necessidade de contraponto masculino, seria preciso um ator igualmente raro, que no momento não me vem à mente (Jackman e Del Toro são bons, mas não raros).

O risco de desequilíbrio sem esse ator era grande. Mas mesmo esse risco ela conseguiu evitar. Seu gigantismo em cena é generoso o suficiente para permitir ao menos uma interpretação digna de Renner. A se notar que até o maravilhoso Forrest Whitaker fica pequeno perto dela, o que torna a cena em que há o primeiro contato entre os dois bem engraçada, com ela tremendo de medo de assumir a tarefa e ao mesmo tempo encarando e jogando uma charada para aquela presença inicialmente ameaçadora.

Enquanto houver atuações como as dessa atriz que parece melhorar a cada ano, Hollywood ainda não terá atingido o fundo do poço. Se o filme não é grande coisa é porque todo o resto não ajuda muito. Mas ela consegue ao menos fazer com que a sessão passe sem maiores dissabores. É a arte de Amy Adams que acompanhamos por quase duas horas.

11 Respostas

  1. […] lindo uso da janela 2:35. Até ia dizer sobre o trabalho da Amy Adams também, mas depois do que o Sérgio Alpendre falou não tenho o que […]

  2. Sérgio, ainda sobre Adams, qual das ruivas você acha que tem mais presença de tela, Amy ou jessica chastain?

    1. Amy, claro.

      1. É paixão mesmo rss

  3. ahhhh…eu gostei bastante de Interestelar e deste filme …. rs rs… mas não tenho a bagagem cinematográfica do pessoal que frequenta o site…embora entre bastante para aprender. Mau gosto a gente não discute…apenas lamenta rs rs ….
    Gosto bastante do blog…continue assim…
    Acho ótimo que agora as postagens estão mais frequentes.

    1. obrigado, Fábio. Tentarei manter a frequência.

    2. Fábio, não se trata de ‘mau gosto’ e ‘falta de bagagem’. A maior parte da crítica gostou do filme, que é no mínimo um sci-fi bastante sofisticado. Não se sinta burraldino só porque discorda de alguém que admira.

  4. E que tal Ethan Hawke ou Edward Norton? Hawke está impressionante no filme em que interpreta Chet Baker.

    1. acho o Hawke bom, e o Norton melhor, mas nenhum deles chega aos pés da Amy Adams.

  5. Joaquim Phoenix? eu teria curiosidade de ver ela com o Billy Crudup

    1. me desculpe, Renato. Vi o aviso no celular e depois esqueci de aprovar. Gosto do Phoenix e do Crudup, mas acho que não fariam frente à Amy. Na verdade, acho que os atores que fariam estão velhos para o papel.

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