Os 20 filmes de cabeceira (de hoje)

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Vários leitores me pedem uma lista dos meus filmes preferidos, impulsionados pela minha declaração de que A Noviça Rebelde provavelmente seria um deles. Mal sabem eles que sei desse e de mais alguns poucos, mas fechar em dez, quinze ou vinte, deixando tantos outros de fora, não sei. Então faço a lista de hoje, com prazo de validade de apenas 24 horas (vá lá, 48 horas). E com 20, um de cada diretor, porque com 10 seria impossível. E no fluxo da memória, sem substituições de última hora. Mesmo assim, muitas ausências me incomodam: Godard, Chabrol, Lubitsch, Welles, Vidor, Rohmer, Eastwood, Scorsese, Aldrich, Fuller, Imamura, Ozu, os dois Kurosawas (Akira e Kiyoshi), Naruse, Peckinpah, Coppola, Syberberg, Straub, Erice, Oliveira (lamentável ausência), Monteiro, Glauber, Bressane, Tonacci, Pasolini, Zurlini… Tantos outros não lembrados de pronto. Uma lista de 100 ou 200 seria mais justa. Mas isso só dá para fazer com patrocínio.

Aurora (Sunrise, 1927), de F.W.Murnau

No ano retrasado, formulei a ideia de que nenhum aluno poderia tocar numa câmera antes de ter visto este filme monumental em que Murnau chuta a porta da Fox e de Hollywood.

Peregrinação (Pilgrimage, 1933), de John Ford

Ford, herdeiro de Griffith, aqui demonstra clara influência de Murnau. Há historiadores que dizem que Ford só se tornou grande após ter tomado contato com a obra de Murnau.

Um Dia no Campo (Une Partie de Campagne, 1936), de Jean Renoir

Cinema moderno é isso. O filme incompleto de Renoir não parece na verdade incompleto. A câmera no balanço iria inspirar outro filme desta lista: Charulata. O final é de causar síncopes.

Com um Pé no Céu (One Foot in Heaven, 1941), de Irving Rapper

Já valeria pela cena em que noivo e noiva concordam em seguir uma nova vocação, religiosa. A luz se faz por trás deles, na rua, mas iluminando todo o quadro. Tem muitas outras, tão inspiradas quanto essa.

A Sombra de uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943), de Alfred Hitchcock

Hitchcock dizia ser este o melhor entre seus filmes. Acho isso também, empatado com Um Corpo Que Cai e Os Pássaros.

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder

Um filme perfeito, de estrutura magnânima, sobre a crueldade da indústria cinematográfica. Pude vê-lo no cinema, na antiga Sala Cinemateca, em Pinheiros.

Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful, 1951), de Ida Lupino

Entre quatro ou cinco obras-primas dirigidas pela grande Lupino, escolho este filme, um dos mais inusitados e bem dirigidos entre todos os filmes que vi. E também aquele que não deixa dúvidas: ela era craque da mise en scène.

O Intendente Sansho (Sansho Dayu, 1954), de Kenji Mizoguchi

Poderia ser Conto dos Crisântemos Tardios, Senhorita Oyu ou A Vida de Oharu. Mas Sansho sempre se impõe, revisões a fio.

No Silêncio de uma Cidade (While the City Sleeps, 1956), de Fritz Lang

O cinema da crueldade. Lang extremamente coerente com sua carreira, desembocando neste filme em que ninguém presta (mas torcemos para Thomas Mitchell, como não?).

A Herança da Carne (Home From the Hill, 1960), de Vincente Minnelli

O ocaso dos grandes estúdios. Hollywood à deriva. Cai a família de sangue, patriarcal. Surge uma nova configuração familiar.

O Anjo Exterminador (El Angel Exterminador, 1962), de Luis Buñuel

O filme que representa o nascimento de minha cinefilia. Nunca tive tanta sintonia com nenhum outro diretor.

O Leopardo (Il Gattopardo, 1963), de Luchino Visconti

Faz tempo que não revejo, mas as duas vezes que o vi no Cinesesc, naquela tela gigante, quando a primeira versão restaurada chegou ao Brasil, me deixaram marcas profundas. Nunca mais fui o mesmo cinéfilo.

A Esposa Solitária (Charulata, 1964), de Satyajit Ray

Lembro do Ruy Gardnier olhando para mim e rindo de minha cara de extasiado com este filme mágico, visto pela primeira vez numa Mostra Internacional de São Paulo, na Sala Cinemateca (se não me engano, logo depois de ter mudado para o matadouro).

A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), de Robert Wise

A cada revisão se revela maior. Onde isso vai parar? Wise sempre subestimado. Rodgers e Hammerstein geniais.

Quando o Amor é Cruel (L’Incompreso, 1967), de Luigi Comencini

O melodrama por excelência. Impossível ver sem chorar. Duas crianças, uma mãe doente, uma governanta desesperada, um casarão e um pai ausente.

Deixem-nos Viver (Alice’s Restaurant, 1969), de Arthur Penn

O comentário definitivo sobre a contracultura. Penn já mostrava seu ocaso antes mesmo de ele acontecer (vide a cena inesquecível do funeral). Finalmente saiu em DVD no Brasil. Poderei aposentar a cópia do americano que usava em aulas.

Satyricon (1969), de Federico Fellini

Sendo extremamente fiel a recentes revisões, coloco Satyricon no lugar de Roma (que seria a escolha até fevereiro deste ano), ou de A Doce Vida (escolha de 2013 e 2014), ou Oito e Meio (escolha antes de 2013) porque se confirmou em minha mente e meu coração como uma obra-prima definitiva sobre a decadência moral (no caso, do Império Romano). Palmas para a fotografia do grande Giuseppe Rotunno.

Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla

Poderia ter colocado algum do Glauber Rocha, diretor que sempre amei. Mas este alucinado longa de Sganzerla é meu filme brasileiro preferido já há dois anos, mais ou menos.

Num Ano de Treze Luas (In Einem Jahr mit 13 Monden, 1978), de R.W.Fassbinder

O maior filme de Fassbinder. O mais arriscado, o mais impactante (a cena do suicídio testemunhado por Elwira é inesquecível), o mais torto (a homenagem a Jerry Lewis, que diabos é aquilo?), o mais alusivo.

O Rio dos Vagalumes (Hotaru Gawa, 1987), de Eizo Sugawa

Filme raríssimo, que só vi uma vez, em prantos, no Cinesesc, graças à Mostra Internacional de São Paulo e à propaganda de Carlos Reichenbach, grande admirador do Sugawa. Foi em meados dos anos 1990, uma de minhas experiências mais marcantes numa sala de cinema.

9 Respostas

  1. por que a versátil não lança sugawa? raros sonhos flutuantes merecia, versátil .

  2. Sérgio até comprei dois dos escolhidos por você. A Esposa Solitária e No Silêncio de uma Cidade. Porém, a lista cheira a naftalina!

    1. hahaha… esse medo das coisas velhas. Eu não entendo.

  3. Sei que é um entusiasta de Eastwood, mas mais alguma coisa a partir da década de 90?

    1. claro que sim…

  4. Nenhum do Orson Welles? Se tivesse qual seria?

    1. Provavelmente Othelo.

  5. Sérgio, ótima lista. Já que está no embalo, você bem que poderia nos brindar com uma lista de 20 diretores de cabeceira. Que tal?
    A minha lista de diretores hoje seria, sem ordem de preferênca:
    Mizoguchi, Ford, Dreyer, Hitchcock, Lubitsch, Tarkovski, Hawks, Bergman, Buñuel, Rossellini, Kurosawa, Wilder, Rocha, Chaplin, Leone, Oliveira, Rohmer, Murnau, Kubrick, Allen.

    1. seria torturante demais. Mas muitos desses estariam na minha também.

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